A minha querida médica acompanha-me desde os meus 15 anos.
No entanto nunca tivemos uma relação próxima, as consultas eram sempre rápidas, estava sempre tudo bem, a maioria das consultas eram de rotina ou para pedir receitas de pílulas ( ahahahaha pílula).
Ela é muito pragmática, não é daquelas que nos passa a mão na cabeça, pelo contrário, é directa e de poucas palavras.
Ela é muito pragmática, não é daquelas que nos passa a mão na cabeça, pelo contrário, é directa e de poucas palavras.
Quando soubemos que tínhamos um problema de infertilidade, diagnosticado por ela, senti-me sozinha e de certa forma estava à espera de mais apoio, no dia em que soube os resultados dos exames, ela não veio falar comigo, foi a recepcionista que me pediu para ir ter com ela à MAC, só voltámos a falar quase um mês depois.
Senti-me triste e desiludida, estava à espera que ela viesse dar-me algum tipo de apoio, ( o que no meu caso se iria traduzir em chorar, chorar no ombro da médica)
Comentei com o R., com a minha mãe e com a minha irmã, que também acharam estranha a reacção dela.
Quando me apercebi da realidade que se vive na PMA da MAC e da realidade que são os tratamentos, percebi que não havia outra forma de ela própria se proteger, uma relação muito próxima com as pacientes pode afectá-la a ela, mas também a nós.
Não foi ela que me fez a ICSI, porque entretanto e dada a lista de espera no público decidi avançar pelo privado nos Lusíadas.
Quando engravidámos ficamos com um problema nas mãos, quem nos iria seguir a gravidez, ponderámos bastante e optámos pela minha médica de sempre, pedimos desculpa à outra médica e explicámos a situação.
Durante a gravidez a nossa relação foi crescendo, as consultas eram muito divertidas, ríamos imenso, fomos criando laços, as coisas evoluíram.
Depois de ela me fazer o parto, tudo mudou, se não fosse ela sei que o parto não teria sido como foi, a equipa estava a tentar forçá-la para fazer uma cesariana ( o M. era muito pesado, eu tenho uma estrutura pequena e os batimentos dele estavam a diminuir).
Não tenho nada contra as cesarianas, inclusivamente na altura até me parecia bem mais fácil do que um parto normal, mas para nós tinha dois grandes contras: só poderíamos tentar engravidar novamente daqui a dois anos (que não está dentro dos nossos planos, nós queremos começar a tentar mal possamos e estejamos física e psicologicamente aptos) e se fosse cesariana o próximo parto não poderia ser induzido, o que nos deixava desde já algumas condicionantes, coisa que não nos agradava.
Se o parto foi rápido, foi graças a ela e se foi parto normal foi também graças a ela, que acreditou que eu conseguiria.
A nossa relação a partir daquele dia ficou forte.
No dia em que fui tirar os pontos (uma semana após o nascimento do M.) levei-lhe um pequeno presente de agradecimento e no final da consulta ela abraçou-me e eu desatei a chorar no ombro dela e quando reparei também ela estava comovida a abraçar-nos.
Alguém me disse um dia que os médicos que trazem os nosso filhos ao mundo ficam marcados para sempre e é mesmo verdade.
6ªfeira tenho consulta com ela, tenho saudades dela e cada vez que penso nela as lágrimas vêm-me aos olhos ( eu sei que também sou dada a estas choradeiras, mas a minha gratidão para com ela é tão grande que me dá para isto).
T
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